VISITA DE REPRESENTANTES DA UNIÃO EUROPEIA AO SDL – Pastoral dos Ciganos

VISITA DE REPRESENTANTES DA UNIÃO EUROPEIA AO SDL

Nos nossos dias não há rotinas, nem seguimos nenhuma por princípio.

A deslocação a cada Centro não obedece a uma ordem pré estabelecida, mas também não se faz ao acaso. É necessário acompanhar a concretização do que se programou e avaliar a possibilidade de incluir novas propostas frente a problemáticas ou necessidades que, entretanto, surgiram. Há também avarias, falhas técnicas a enfrentar, juntamente com o fantasma das despesas, que se perfila com ar inocente, como quem abana os ombros e sussurra: tem que ser!

Mas o que faz de cada dia um dia único é o eco dos problemas humanos, dos sofrimentos, mas também das inadaptações, das degradações, que nos espera. Colocados por quem sabe e lamenta as situações, ou pelo próprio, sendo que este solicita a nossa capacidade de escuta e exige que nos empenhemos em abrir caminhos de esperança, para quem está triste, aflito ou desesperado.

Os sorrisos acolhedores das crianças e as suas palavras inocentes enchem-nos o coração de uma alegria fresca, que se sobrepõe aos cenários atrás referidos. E por vezes surge a festa, em que participam os frequentadores habituais e em que revemos também crianças de outros tempos, hoje pais e avós, que vêm matar saudades. E então acontecem os abraços, as lágrimas mal contidas, ao recordarmos, a par, tempos, aventuras e até bairros que desapareceram, pessoas que partiram. Experimenta-se o calor da amizade verdadeira, a certeza de sermos Família.

De longe em longe acontece um dia excepcional e é do último destes que vos venho dar conhecimento. Foi no passado dia 13 de Fevereiro. Tínhamos recebido um pedido para acolhermos e reunirmos com uma delegação da União Europeia, que iria estar em Lisboa. Tratava-se de um grupo de trabalho para a inclusão dos ciganos, da Comissão Económica e Social da União Europeia, que pretendia ouvir Organizações não Governamentais sobre a respectiva visão da realidade cigana em Portugal, país em que está delineada uma Estratégia Nacional para a Integração dos Ciganos.

Recebemos o grupo no nosso Centro Majari, que visitou, tendo contactado com os pequeninos do pré-escolar e com as crianças e jovens que estavam em actividades de tempos livres.

Depois reunimos e foi num ambiente de simplicidade que a conversa decorreu. Nem precisámos de nos preocupar com o nosso inglês, pois traziam tradutores. Falámos com verdade do que nos dói, do que realmente nos preocupa e que é urgente enfrentarmos em conjunto, para a situação melhorar, como tanto desejamos.

Referimos que a grande maioria das crianças e jovens atinge os 18 anos tendo já abandonado a escola sem ter cumprido a escolaridade obrigatória. Considerados, pelas famílias, adultos demasiado cedo, casam impreparados para aceder ao mundo do trabalho. Assim, a realidade de desemprego é alarmante e tem, como é natural, repercussões na situação habitacional, que é claramente deficitária, verificando-se, em muitos casos, a existência de dois e três casais, excepcionalmente até quatro, com os respectivos filhos, a viverem no mesmo apartamento.

Conscientemente, não fizemos tragédia, não entrámos em pormenores, mas demos a conhecer a realidade que testemunhamos no quotidiano, em Lisboa e concelhos limítrofes. Mais longe há os nómadas e semi-nómadas, com quem não nos relacionamos directamente.

Às 17 horas, os nossos visitantes despediram-se, com sorrisos.

Voltaremos a ver-nos? E nessa altura teremos novidades boas para partilhar?!

Fernanda Reis

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